Manual de Doutrinas da ICPB
O texto a seguir, de conteúdo teológico-doutrinário, foi elaborado por uma comissão nomeada na XXIII Convenção Geral da ICPB, em abril de 2001, em Mogi Guaçu (SP), visando sistematizar o corpo doutrinário da ICPB. O mesmo foi encaminhado à XXV Convenção Geral da ICPB, em abril de 2005, sendo o trabalho revisto por uma Comissão de Doutrina formada pelos pastores: José Pinto de Oliveira Filho (Recife-PE), João Evangelista Francisco (Andradas - MG), Isaías Soares Sobrinho (Brasília - DF), Israel Alexandre Luna (Santo André - SP) e Pb. Ademir Teixeira de Freitas (Santo André - SP) que, após analisado, encaminharam o texto ao plenário e depois de algumas considerações foi aprovado. Posteriores alterações a este conteúdo só poderão ocorrer quando submetidas à discussão em Convenção Geral.
Para os crentes da ICPB, as Escrituras Sagradas, em particular o Novo Testamento, constituem a única regra de fé e conduta, mas, de quando em quando, as circunstâncias exigem que sejam feitas declarações doutrinárias que esclareçam, dissipem dúvidas e reafirmem posições.
Cremos estar vivendo um momento assim no Brasil, com a exigência insubstituível de termos uma declaração rigorosamente fundamentada na Palavra de Deus. É o que faz agora a XXV Convenção Geral da ICPB, nos artigos que se seguem.
I - CONCEITOS/DEFINIÇÕES
1. DOUTRINA - palavra que vem do latim e significa “ensino”, podendo ser usado no sentido geral ou específico. Pode também envolver as idéias de “crença, dogma, conceito ou princípio”. Assim, a doutrina cristã pode ser definida como as verdades fundamentais da Bíblia dispostas em forma sistemática visando sua melhor compreensão.
2. TEOLOGIA - do ponto de vista filosófico, Teologia significa as “discussões dos filósofos a respeito das questões divinas”, ou ainda: “Teologia é o estudo que permite ao homem conhecer a Deus na forma como Ele se revela”.
3. TEOLOGIA SISTEMÁTICA - é a sistematização da verdade religiosa de forma organizada e didática.
4. DOGMA - vem do grego e significa “parecer, opinião ou juízo”. Portanto, dogmas são as opiniões que se fixam e se tornam autoritárias, a despeito de representar parte fundamental de um ensino.
5. TEOLOGIA DOGMÁTICA - geralmente a palavra “dogmática” refere-se à tarefa que tem a igreja de resumir e sistematizar o ensino das Escrituras e da tradição, transformando-o num todo coerente, de acordo com as categorias teológicas (como Soteriologia, Cristologia e outras) usadas tradicionalmente na maior parte da História eclesiástica.
6. HERESIA - vem do grego ‘escolher’ e é o ensino errôneo - sustentado voluntariamente por quem admitiu a fé cristã - contra as verdades que a igreja apresenta como reveladas.
Para efeito didático, a partir das premissas anteriores, trabalharemos dois aspectos importantes das verdades cristãs e as denominaremos de Verdades Primárias e Verdades Secundárias.
II - AS VERDADES BÍBLICAS PRIMÁRIAS
DA FÉ CRISTÃ EVANGÉLICA
Entendemos Verdades Primárias como sendo aquelas nas quais baseamos nossa fé e conduta, extraídas da Bíblia Sagrada, que não podem ser em tempo algum ou em circunstância alguma, mudadas, diminuídas ou aumentadas - em seu caráter e/ou conteúdo, sendo, portanto, de teor inalterado ou inalienável e que sua observância ou não, implica diretamente no ganho ou perda da salvação.
1. A BÍBLIA SAGRADA - Há duas modalidades da revelação de Deus: a Geral e a Especial. A Geral revela Deus em seus atributos e poderes. Assim, podemos perceber Deus revelando-se na natureza ou através de seus atos poderosos.
A segunda modalidade, a Especial, é a que Deus se revela de forma muito especial e nela, manifesta seu amor, sua vontade - expressa em decretos e preceitos - bem como seu caráter, sendo a Bíblia a fonte dessa revelação especial de Deus. Assim, cremos na Bíblia Sagrada como o manual autoritativo da revelação inerrante, especial, verbal e plenária de Deus (Sl 119.105; Rm 15.4; 2 Tm 3.15,16,17; 2 Pd 1.20,21).
2. DEUS - Cremos em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas, visíveis e invisíveis (1Tm 2.5; Gn 17.1; Jr 10.16; Cl 1.16; Ap 11.17).
3. O SENHOR JESUS CRISTO - Cremos no Senhor Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus, pelo qual todas as coisas foram feitas, o qual, por nós homens e nossa salvação, desceu dos céus, foi crucificado e conforme as Escrituras subiu aos céus e assentou-se à destra do Pai, e de novo há de vir, com glória, para julgar os vivos e os mortos, e seu reino não terá fim (Mt 1.18,23; Jo 1.3,14; 8,12; 9.5; Ef 4.10; 1Tm 3.16; Mt 27.50; Lc 23.4; 24.1-12; At 1.9-11, 1Ts 4.16). Cremos no nascimento sobrenatural de Cristo, da
Virgem Maria, como concepção milagrosa, mediante o poder do Espírito Santo (Mt 1.18, 22-25; Lc 1.26-38).
4. O ESPÍRITO SANTO - Cremos no Espírito Santo, Senhor e vivificador, que procede do Pai, que com o Pai e o Filho conjuntamente é glorificado, que falou através dos profetas, sendo a Terceira Pessoa da Trindade (Jo 14.26; 15.26; 16.14; At 5.3,4).
5. A TRINDADE - Assim, cremos num Deus Trino - a tríplice manifestação no Pai, no Filho e no Espírito Santo (Mt 28.19; 2 Co 13.13).
6. A REGENERAÇÃO, A JUSTIFICAÇÃO, A SANTIFICAÇÃO DOS CRENTES e ELEIÇÃO
6.1. Cremos na REGENERAÇÃO como: “mudança radical operada pelo Espírito Santo na alma do homem, por intermédio da verdade evangélica, mudança pela qual se transforma completamente a disposição moral do homem, que se restaura de novo, na semelhança de Deus e se une a Jesus Cristo, a quem aceita como bendito e eterno Salvador”.
As condições para o pecador ser regenerado são: arrependimento, fé e confissão. O arrependimento implica em mudança radical do homem interior, que se afasta do pecado e se volta para Deus. A fé é a confiança e aceitação de Jesus Cristo como Salvador e a total entrega da pessoa a Ele (Tt 3.5; Rm 8.2; Jo 1.11-13; Ef 4.32). A confissão significa reconhecer e deixar o pecado, verbalizando o compromisso com Cristo (Rm 10.9).
6.2. Cremos na JUSTIFICAÇÃO como o ato pelo qual Deus, considerando os méritos do sacrifício de Cristo, absolve, no perdão, o homem de seus pecados e o declara justo, capacitando-o para uma vida de retidão diante de Deus e de correção diante dos homens (Is 53.11; Rm 8.33; 3.24; Rm 5.1; At 13.39; 2Co 5.21; 1Co 1.30).
6.3. Cremos na SANTIFICAÇÃO do crente como obra da graça recebida pela fé em Cristo Jesus e como um processo contínuo na vida do crente, mediante a ação do Espírito Santo, visando um viver em conformidade com Cristo (Jo 17.17; 1Ts 4.3; 5.23; 4.7; Rm 6.19; Gl 5.22).
6.4. Cremos que ELEIÇÃO é a escolha feita por Deus, em Cristo, desde a eternidade, de pessoas para a vida eterna, não por qualquer mérito, mas segundo a riqueza da sua graça (Gn 12.1-3; Êx 19.5,6; 1Pd 1.2; 1Ts 1.4; 1Tm 2.4; Hb 10.37,38). Antes da criação do mundo, Deus, no exercício da sua soberania e à luz de sua presciência de todas as coisas, elegeu aqueles que, no correr dos tempos, aceitariam livremente o dom da salvação (Rm 8.28-30; Ef 1.4; 2Ts 2.13).
Ainda que baseada na soberania de Deus, essa eleição está em perfeita consonância com o livre-arbítrio de cada um e de todos os homens (Dt 30.15-20; Jo 15.16; Rm 8.35-39; 1Pd 5.10).
7. RESSURREIÇÃO DOS MORTOS E JULGAMENTO FINAL - Cremos na ressurreição dos mortos, dos justos e dos injustos. Os ímpios condenados e destinados ao inferno lá sofrerão o castigo eterno, separados de Deus (2 Ts 1.9). Os justos, com os corpos glorificados, receberão seu galardão e habitarão para sempre, no céu, com o Senhor (Ap 22.11,12). Na Palavra de Deus encontramos claramente expressa a proibição divina da busca de contato com os mortos, bem como a negação da eficácia de atos religiosos com relação aos que já morreram (Lv 19.31; 20.6,27; Dt 18.10; Is 8.19; 38.18; Hb 3.13).
8. VINDA DE CRISTO - Cremos na segunda vinda de Cristo conforme Mt 24.27-31; At 1.10,11.
III - AS VERDADES SECUNDÁRIAS DA FÉ CRISTÃ EVANGÉLICA
Por verdades secundárias entendemos serem elas para o enriquecimento, do indivíduo ou da igreja, para fortalecimento e capacitação na fé e maturidade da vida no corpo de Cristo, extraídas sejam da Bíblia, das tradições dos antepassados ou da própria História de vida da igreja. Estas verdades são ditas secundárias por não interferirem no ganho ou perda da salvação do crente.
1. A IGREJA E SUAS ORDENANÇAS
1.1. IGREJA - Cremos na Igreja como o Corpo de Cristo (organismo) que se materializa na organização que a ela damos, como sendo o ajuntamento de pessoas chamadas à salvação. Cremos na Igreja visível, como comunidade local, que congrega todos os que professam a fé em Jesus Cristo e na Igreja invisível, constituída de todos os que já foram, estão sendo e serão salvos no futuro.
1.2. ORDENANÇAS
1.2.1. BATISMO E CEIA
Cremos nas duas ordenanças deixadas por Jesus Cristo: o batismo nas águas por imersão para os que já professam a salvação em Cristo Jesus e na celebração da ceia do Senhor como ato memorativo do sofrimento e morte do Senhor Jesus para os que já são batizados nas águas.
O batismo, que é condição para ser membro de uma igreja, deve ser ministrado sob a invocação do nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo (Mt 28.19; At 2.38,41,42; 10.48). A ceia do Senhor deve ser celebrada pelas igrejas até a volta de Cristo e sua celebração pressupõe o cuidadoso exame íntimo dos participantes (Mt 26.29; 1Co 11.26-28; At 2.42; 20.4-8).
2. DÍZIMO - Todas as bênçãos temporais e espirituais procedem de Deus e, por isso, devem as pessoas a Ele o que são e possuem.
As Escrituras Sagradas ensinam que o plano específico de Deus para o sustento financeiro de sua causa consiste na entrega, pelos crentes, de dízimos e ofertas alçadas (Gn 14.20; Lv 27.30; Pv 3.9,10; Ml 3.8-12; Mt 23.23). Devem eles trazer à igreja sua contribuição sistemática e proporcional com alegria e liberalidade, para o sustento do ministério, das obras de evangelização, beneficência e outras (At 11.27-30; 1Co 16.1-3; 2Co 8.1-15).
3. DONS ESPIRITUAIS - Por dons espirituais entendemos serem as manifestações sobrenaturais provenientes da ação do Espírito Santo sobre o crente para promover a exortação, a edificação e a capacitação do povo de Deus, quer para o exercício ministerial, quer para a promoção da unidade do Corpo de Cristo com vistas à sua maturidade e completude (Rm 12. 6-8; 1Co 12. 1-11; Ef 4.11-16). A ICPB crê, defende e ensina sobre a contemporaneidade das manifestações dos dons espirituais, de forma amadurecida, responsável, didática e, sobretudo, de conformidade com as Sagradas Escrituras.
4. SEGUNDA VINDA DE CRISTO - A ICPB crê, como verdade primária, na segunda vinda de Cristo, porém, com relação ao tempo e sua manifestação, existem posições diferentes.
4.1. A GRANDE TRIBULAÇÃO - Ensina-se ser a Grande Tribulação o período de sete anos - dividido em duas etapas - em que o julgamento e a ira de Deus se abaterão sobre o mundo ímpio que rejeitou a Cristo, e que a ira e a perseguição satânicas contra os que recebem a Cristo e a sua Palavra serão evidentes.
Com relação à segunda vinda de Cristo, existem posições distintas (Dn 9.27; Mt 24.15-18; Mc 13.14-23; Lc 21.36; 2Co 5.2,4; Fl 3. 20,21; Ap 3.10), todavia, mesmo que a nossa igreja, enquanto denominação respeite todas as posições, ainda que por parte de seus membros, a ICPB, entretanto, defende e ensina o PRE-TRIBULACIONISMO, sendo esta a corrente teológica que entende que o arrebatamento da igreja acontecerá antes da Grande Tribulação.
4.2. O MILENISMO - Doutrina extraída da Bíblia, mais especificamente de Apocalipse 20.1-10, seu ensino ocupa-se com o futuro da comunidade humana na terra e com o que acontecerá durante esses mil anos de governo terreno de Cristo. Acerca deste ensino, mesmo
conhecendo e respeitando as diferentes posições teológicas acerca do assunto, nossa igreja, como denominação, crê, ensina e defende o PRÉ-MILENISMO que entende que o arrebatamento da igreja acontecerá antes da Grande Tribulação.
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